segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O verbo no infinito

Ser criado,gerar-se,transformar
O amor em carne e a carne em amor ; nascer
Respirar,e chorar,e adormecer
E se nutrir para poder chorar

Para poder nutrir-se ; e despertar
Um dia à luz e ver,ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar

E crescer,e saber,e ser,e haver
E perder,e sofrer,e ter horror
De ser e amar,e se sentir maldito

E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito ...

Vinícius de Morais

sábado, 13 de novembro de 2010

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive
E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei —

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.


Manuel Bandeira .

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Foi querendo . . .

Foi querendo um querer intenso
Que me peguei questionando esse
tal bem querer e ser querido .
Foi querendo acertar que me deparei
com desacertos e desatinos .
Foi querendo coisas impossíveis
que esbarrei na impossibilidade de ser .
Que graça há em querer o possivel e alcançável .
Foi querendo um querer palpável ,
que meu bem querer se transformou em
um querer inconstante .
Foi querendo um querer sólido e sensato ,
que o meu querer se travestiu de nada  .



Helô Costa